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Bem-estar

10 Apr 2025

Diagnóstico das Alergias: Métodos e Desafios

 

Artigo de opinião de Filomena Neves, Médica de Imunoalergologia

As doenças alérgicas têm se tornado uma preocupação crescente na saúde global, impactando milhões de vidas diariamente. O seu diagnóstico é essencial para a gestão eficaz dos sintomas e para a melhoria da qualidade de vida dos doentes. Dessa forma, a necessidade de métodos de diagnóstico precisos e confiáveis torna-se cada vez mais importante. Este artigo explora os diferentes métodos de diagnóstico, desde a história clínica detalhada até aos testes cutâneos e a in vitro, destacando as suas vantagens e limitações. Compreender os métodos de diagnóstico é essencial para abordar as crescentes necessidades dos doentes com alergias.

 

História clínica

O diagnóstico da doença alérgica baseia-se sobretudo na história clínica. É fundamental fazer uma história clínica detalhada e esclarecedora, abordando várias questões, como a sintomatologia, a idade de aparecimento, os fatores desencadeantes (por exemplo, exposição ao pó, pólens, animais, alimentos, etc.), a frequência, a duração e a gravidade dos sintomas, a resposta à terapêutica, aos testes assim como a variabilidade durante o dia e as estações do ano, entre outros pontos importantes.

 

Além da história clínica, diversos testes diagnósticos têm um papel crucial na identificação das alergias.

 

  • Testes cutâneos. O método diagnóstico de eleição para a avaliação da presença de sensibilização alergénica é, sem dúvida, a realização dos testes cutâneos por picada ou “prick” (inclusive em idade pediátrica). Isso deve-se à facilidade de execução, rápida resposta, segurança, baixo custo e elevada especificidade e sensibilidade. No entanto, estes testes podem ser influenciados por diversos fatores, motivo pelo qual é imprescindível que a sua interpretação seja efetuada por um profissional qualificado na área.

 

  • Testes In Vitro. Os testes in vitro têm demonstrado grande utilidade em situações nas quais os testes cutâneos são inconclusivos ou não podem ser realizados (como, por exemplo, devido ao uso de anti-histamínicos ou corticoides, condições da pele com lesões extensas, exacerbação de doença crónica, etc.). Dessa forma, os testes in vitro apresentam-se como uma alternativa valiosa em contextos clínicos específicos.

Os testes cutâneos oferecem resultados quase imediatos, enquanto os in vitro podem ser uma opção mais detalhada, embora mais demorada. A deteção das IgEs pode ser feita através de ensaios únicos por amostra (singleplex) e, mais recentemente, através de múltiplos ensaios por amostra (multiplex). A plataforma singleplex permite selecionar os alergénios necessários para um diagnóstico baseado na história clínica do paciente.

 

1)    A determinação da IgE específica através da metodologia “RAST” (uma técnica laboratorial para medir IgE no sangue) é útil para confirmar alergias. No entanto, apresenta algumas limitações que podem comprometer o seu valor de diagnóstico, como a reatividade cruzada, que pode resultar em resultados positivos clinicamente irrelevantes. Além disso, um resultado positivo num teste RAST, por si só, não comprova a presença de alergia nem prevê a severidade de uma reação alérgica. A interpretação do resultado deve sempre ser feita com base num juízo clínico experiente na área de Imunoalergologia, alicerçado numa história clínica bem colhida e detalhada.

2)    ImmunoCAP® ISAC. Atualmente, a tecnologia microarray é comercializada na forma de ImmunoCAP® ISAC (Immuno Solid-phase Allergen Chip) da Thermo Scientific. Trata-se de um imunoensaio de fase sólida que permite a deteção de IgE específica (em 30 μl de soro ou plasma), disponibilizando uma grande variedade de componentes moleculares de alergénios naturais ou recombinantes. Dessa forma, permite uma abordagem diagnóstica muito mais detalhada, cuja interpretação apresenta maior complexidade, mas que pode oferecer um diagnóstico muito mais preciso.O teste é realizado a partir de uma simples análise de sangue e é útil para evitar erros terapêuticos, melhorar o diagnóstico e personalizar o tratamento. O ImmunoCAP ISAC (Allergen Solid-Phase Allergen Chip) é indispensável na Imunoalergologia por várias razões:
 

1.    Doentes polissensibilizados: doentes que são alérgicos a múltiplos alergenos, como alimentos e inalantes.
2.    Reatividade cruzada: para identificar reações cruzadas entre diferentes alergenos.
3.    Anafilaxia idiopática: avaliação de doentes com anafilaxia sem causa aparente.
4.    Dermatite atópica: deteção de sensibilizações não suspeitadas em casos de dermatite atópica.
5.    Imunoterapia: o teste ajuda a selecionar pacientes para imunoterapia e a personalizar o tratamento com base nos alergenos específicos identificados.
 

Em resumo, o ImmunoCAP® ISAC é uma ferramenta valiosa no diagnóstico e tratamento de alergias, proporcionando um perfil detalhado de sensibilização e ajudando a personalizar o tratamento para cada paciente. A solicitação e avaliação do teste devem estar reservadas a um médico da especialidade de Imunoalergologia.

 

Conclusão

Os métodos diagnósticos atuais para doenças alérgicas, como testes cutâneos, in vitro e ImmunoCAP® ISAC, são fundamentais, mas apresentam limitações que destacam a importância de avanços contínuos. Os estudos em andamento prometem superar essas barreiras, tornando o diagnóstico mais preciso, personalizado e eficaz, beneficiando diretamente os pacientes. Embora existam outros métodos diagnósticos, como os testes intradérmicos, testes epicutâneos (patch tests), de provocação (oral, ocular e nasal) e o teste da ativação dos basófilos, este artigo focou-se nas abordagens mais amplamente aplicadas e diretas na prática clínica. Os avanços futuros prometem aperfeiçoar ainda mais essas ferramentas, tornando o diagnóstico mais eficaz e personalizado.

 

Bibliografia consultada:

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•    van Hage, M., et al., Performance evaluation of ImmunoCAP(R) ISAC 112: a multi-site study. Clin Chem Lab Med, 2017. 55(4): p. 571-577.
•    NEWS FROM INDUSTRY VOL 40, N 3, 106-107, 2008 Eur Ann Allergy Clin Immunol ImmunoCAP ISAC, an innovative tool in allergy diagnosis. Promotional article sponsored by Phadia SAS Allergy in vitro diagnostic tools.
•    Erskine J, Brooker E, Leech S, Chalkidou A, Keevil S, North J. A Retrospective Clinical Audit of the ImmunoCAP ISAC 112 for Multiplex Allergen Testing. Int Arch Allergy Immunol. 2021;182(1):14-20.
•    Ansotegui et al. World Allergy Organization (WAO) Journal 2020- IgE Allergy diagnostics and other relevant tests in allergy, a WAO position paper.
•    Ansotegui et al., WAO Jounal 2020- consensos paper.