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Saúde Digestiva

02 Jun 2025

Microbioma intestinal: importância para a sua saúde

 

Frequentemente, os termos microbiota intestinal e microbioma intestinal são usados como sinónimos, mas referem-se a conceitos distintos. O termo microbioma diz respeito ao conjunto de microrganismos existentes num determinado órgão e ao respetivo património genético. Já a microbiota refere-se especificamente aos microrganismos vivos — como bactérias, fungos e protozoários — que colonizam esse órgão num determinado momento.

A microbiota intestinal constitui, assim, um ecossistema complexo de microrganismos, com destaque para as bactérias, que habitam o trato gastrointestinal. Este é o maior reservatório de microrganismos do corpo humano, estimando-se que nele exista uma população de cerca de 100 biliões de células microbianas, incluindo várias espécies de bactérias, vírus, fungos e protozoários. Estes organismos podem corresponder a cerca de 1,5% do peso corporal de um adulto. Cada pessoa tem uma microbiota única — como uma impressão digital! Por sua vez, o microbioma intestinal representa o património genético da microbiota intestinal, ou seja, os genes que os microrganismos intestinais são capazes de expressar.

 

Qual é a função da microbiota intestinal?

A microbiota intestinal desempenha um papel essencial na manutenção da saúde humana, estando envolvida em múltiplas funções fisiológicas. Entre as suas principais funções, destacam-se:
    •    Digestão e absorção de nutrientes: As bactérias da microbiota intestinal são fundamentais na digestão de alimentos complexos, como as fibras, e na absorção de certos nutrientes.
    •    Síntese de vitaminas e outros compostos essenciais: Contribui para a produção de vitaminas como a vitamina K, B12 e biotina, essenciais para diversos processos metabólicos.
    •    Defesa contra microrganismos patogénicos e toxinas: Atua como barreira protetora, competindo com microrganismos nocivos e produzindo substâncias antimicrobianas que inibem a proliferação de agentes patogénicos.
    •    Modulação do sistema imunitário: Interage com o sistema imunitário, ajudando a distinguir entre substâncias inofensivas e potencialmente perigosas.
    •    Produção de neurotransmissores: Está envolvida na produção de neurotransmissores como a serotonina (em cerca de 90% no intestino), dopamina, GABA, acetilcolina, catecolaminas e histamina. Estas substâncias têm impacto na motilidade intestinal, metabolismo, imunidade e até no comportamento.

 

Qual a importância do microbioma intestinal para a saúde? 

Uma convivência harmoniosa entre os diversos microrganismos do intestino é essencial para o desenvolvimento normal e a manutenção da saúde humana desde o nascimento.

No entanto, a composição da microbiota é altamente variável e pode ser alterada por diversos fatores, como a idade, a dieta, o uso de medicamentos (especialmente antibióticos), o estilo de vida, a genética e o ambiente.

Quando ocorre uma diminuição da diversidade microbiana e um desequilíbrio na proporção entre espécies benéficas e potencialmente nocivas, desenvolve-se uma condição chamada disbiose. Esta está associada a desequilíbrios fisiológicos e, segundo o conhecimento científico atual, pode contribuir para o aparecimento ou agravamento de várias patologias.

Implicações do microbioma intestinal para a saúde 

O desequilíbrio do microbioma intestinal tem sido associado a diversas doenças, em particular:
    •    Doenças gastrointestinais: como a doença inflamatória intestinal (DII) e a síndrome do intestino irritável (SII);
    •    Doenças metabólicas: incluindo obesidade, diabetes mellitus tipo 2 e síndrome metabólica;
    •    Doenças cardiovasculares e neurodegenerativas (como a demência de Alzheimer);
    •    Perturbações do humor e comportamento: como a depressão e a ansiedade;
    •    Doenças inflamatórias e autoimunes, devido à disfunção na regulação do sistema imunitário;
    •    Algumas doenças oncológicas, em que se investiga o papel da disbiose na sua patogénese.

Contudo, importa referir que, em muitos destes casos, a relação entre disbiose e doença ainda não está totalmente esclarecida: não se sabe sempre se a disbiose é a causa ou uma consequência da patologia e dos seus tratamentos.

A diversidade da microbiota intestinal é, por isso, considerada um importante indicador de saúde física e mental.

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O que influencia o microbioma intestinal?

Vários fatores têm impacto direto na composição e diversidade do microbioma intestinal:
    •    Dieta: Uma alimentação rica em fibras e vegetais promove a diversidade microbiana, enquanto o consumo excessivo de alimentos processados e açúcares refinados pode comprometer esse equilíbrio.
    •    Estilo de vida: Tabagismo, consumo excessivo de álcool e stress e sono, qual estão associados a alterações negativas na composição da microbiota.
    •    Idade: A microbiota é mais diversificada durante a infância e adolescência. Aos três anos, a microbiota infantil já se assemelha à de um adulto, mas continua a desenvolver-se. Na terceira idade, verifica-se uma nova fase de instabilidade, com redução da diversidade e alteração de espécies predominantes.
    •    Fatores ambientais: Exposição à poluição e o uso frequente de antibióticos são fatores que afetam negativamente a microbiota.
    •    Modo de nascimento e aleitamento: Bebés nascidos por via vaginal adquirem microrganismos semelhantes aos da microbiota vaginal materna, enquanto os nascidos por cesariana têm microbiota inicial semelhante à da pele e ambiente hospitalar. Bebés amamentados exclusivamente têm maior proporção de bifidobactérias, consideradas benéficas, do que os alimentados com fórmulas artificiais.
    •    Genética: A predisposição genética também influencia a composição da microbiota intestinal, embora em menor grau que o ambiente e a dieta.

 

Quais as estratégias para otimizar o microbioma intestinal?

A restauração da diversidade microbiana é uma abordagem chave para mitigar os efeitos da disbiose. Para além da otimização dos fatores que influenciam o microbioma acima descritos (dieta, estilo de vida... ), estão descritas estratégias como:
    •    Probióticos: Microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde. A sua eficácia depende da estirpe específica e da condição clínica.
    •    Prebióticos: Componentes alimentares não digeríveis (como fibras) que estimulam o crescimento e a atividade de bactérias benéficas.
    •    Simbióticos: Combinação de probióticos e prebióticos, que potencia o efeito de ambos.
    •    Transplante fecal de microbiota: Uma técnica em desenvolvimento, já usada com sucesso em casos de infeção por Clostridioides difficile. Ainda está em fase de investigação para outras indicações clínicas.

 

 

Podemos promover a saúde e prevenir doenças com o conhecimento sobre o nosso microbioma?

Em suma, o microbioma intestinal é um ecossistema dinâmico, com um papel central na saúde humana. Conhecer a sua composição e funcionamento permite adotar estratégias personalizadas para promover o bem-estar e prevenir doenças.

Para conhecer em detalhe o seu microbioma, poderá realizar o teste myBIOME™, um exame metagenómico disponibilizado pela SYNLAB. Este teste permite identificar os microrganismos presentes no intestino e os genes que expressam, fornecendo informações valiosas sobre o seu impacto na saúde.

Com base nos resultados, é possível obter recomendações nutricionais personalizadas e, em conjunto com um profissional de saúde, desenvolver um plano para equilibrar a microbiota intestinal, contribuindo para a melhoria de sintomas e promoção da saúde.

Ficou curioso por conhecer todos os habitantes do seu intestino e saber como estão a influenciar a sua saúde? Contacte-nos e esclareça todas as suas dúvidas!

 

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