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Supercrescimento bacteriano do intestino delgado: o que precisa de saber
O supercrescimento bacteriano do intestino delgado, vulgarmente conhecido como SIBO (Small Intestinal Bacterial Overgrowth), trata-se de uma condição em que há um crescimento excessivo das bactérias que existem habitualmente no intestino delgado, no qual o valor de referência ultrapassa os 105–106 organismos/ml. Mas, por que acontece este supercrescimento? Como o controlar?
Intestino delgado e o risco do supercrescimento bacteriano
O intestino delgado é a zona do aparelho digestivo onde há maior absorção dos nutrientes, sendo aí que a concentração de bactérias é tendencialmente mais reduzida. Contudo, há certas situações – como, por exemplo, uma cirurgia abdominal ou algumas patologias – que podem contribuir para que a passagem do conteúdo proveniente do estômago se torne mais lenta, criando a acumulação de substâncias e favorecendo o crescimento de bactérias. Consequentemente, esta acumulação excessiva de material digerido no estômago na zona intestinal pode levar ao supercrescimento bacteriano e à produção de toxinas que podem ser deletérias para o organismo humano. Além disso, claro, pode prejudicar a correta absorção dos nutrientes.
SIBO: As principais causas
O SIBO ocorre habitualmente quando os mecanismos que regulam a presença das bactérias no intestino delgado falham.
Assim, há dois importantes motivos que o explicam:
- Diminuição da secreção do ácido gástrico
O ácido gástrico ajuda a regular o crescimento das bactérias e, desse modo, a limitar a quantidade excessiva de bactérias no intestino delgado. Assim, se a produção deste ácido é reduzida, há um fator de risco para o desenvolvimento de SIBO.
- Dismotilidade do intestino delgado
O aparelho digestivo funciona por meio de certos movimentos que concorrem para a passagem dos alimentos, nutrientes e outros produtos resultantes do processo digestivo. Há, no entanto, situações que fazem com que estes movimentos se tornem mais lentos, nomeadamente no intestino delgado, o que pode levar a um crescimento excessivo das bactérias aí existentes.
Além dos motivos já referidos, atualmente sabe-se que alguns distúrbios da função imunológica ou a própria anatomia do aparelho digestivo podem aumentar a probabilidade do desenvolvimento do SIBO.
Para além destas causas, a existência de patologias que afetam o sistema digestivo, tais como a Síndrome do Intestino Irritável, a Doença Celíaca, a Doença de Crohn, a Diabetes, entre outras, aumentam o risco de SIBO.
6 Fatores associados à predisposição para o SIBO
De acordo com o referido anteriormente, existem, portanto, diversos fatores associados ao supercrescimento bacteriano no intestino delgado. Vamos conhecê-los em pormenor?
1 - Fatores estruturais/anatómicos
Estes podem ser consequência de:
• Diverticulose no intestino delgado
• estenose no intestino delgado
• fístulas
• complicações derivadas de cirurgias abdominais, incluindo a cirurgia de colocação de banda gástrica (para casos de obesidade), gastrectomias para tratamento de úlceras ou remoção de tumores no estômago, ou ressecção da válvula ileocecal
2 - Distúrbios na motilidade intestinal
• Gastroparesia (paralisia do estômago)
• Esclerodermia
• Obstrução intestinal crónica
• Neuropatia diabética
• Hipotiroidismo
• Uso crónico de opiáceos
3 - Presença de outras patologias e condições de saúde
• Síndrome do Intestino Irritável (havendo também evidências de que este distúrbio funcional pode ser causado pelo supercrescimento bacteriano)
• Diabetes
• Hipocloridria (diminuição de concentração de ácido clorídrico no suco gástrico)
• Cirrose
• Insuficiência renal
• Pancreatite
• Doença de Crohn
• Doença celíaca
• Fibrose quística
• Problemas imunitários inatos ou adquiridos (ex: SIDA, desnutrição grave)
• Alterações do sono, stress ou depressão
4 - Envelhecimento
Os idosos estão em risco de supercrescimento bacteriano devido a distúrbios de motilidade frequentemente associados. Em primeiro lugar, pelo envelhecimento da mucosa intestinal, depois, por cirurgias gastrointestinais anteriores, e pela secreção ácida diminuída que é frequente com o avançar da idade. Por fim, nos idosos, o SIBO tem sido reconhecido como uma causa importante de diarreia inexplicada e perda de peso.
5 - Certo tipo de medicamentos (toma recorrente de antibióticos ou medicação para redução do ácido gástrico) e radioterapia
6 - Aumento da ingestão de hidratos de carbono simples
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SIBO: quais são os principais sintomas?
Os sintomas do supercrescimento bacteriano do intestino delgado podem ser variados e incluir:
- distensão abdominal;
- cólicas ou desconforto abdominal;
- diarreia;
- flatulência;
- cansaço/fraqueza.
Contudo, em casos mais graves, este distúrbio pode conduzir a complicações, como:
- perda de peso;
- esteatorreia (diarreia com excreção excessiva de gordura);
- má absorção de gorduras, hidratos de carbono e proteínas;
- carência de certas vitaminas e minerais (ferro, vitaminas A, D, E, K e B12), o que pode comprometer o funcionamento do organismo, nomeadamente do sistema neurológico;
- absorção deficitária de cálcio, que pode resultar em maior risco de osteoporose.
A fermentação bacteriana de açúcares não absorvidos pode causar, desse modo, um aumento na produção de lactato no cólon em alguns pacientes. Esses organismos fermentadores podem, em casos raros de doença grave ou imunossupressão, levar à acidose lática, e assim surgir comprometimento neurológico, incluindo confusão, sonolência, marcha instável e letargia.
Além disso, a frequência e a intensidade dos sintomas podem ser indícios do maior ou menor grau de crescimento das bactérias e da extensão da potencial inflamação intestinal.
No entanto, uma vez que estes sintomas não são propriamente específicos, uma vez que podem ser confundidos com sintomas de outras doenças ou condições, tais como intolerância à lactose, é sempre recomendada uma avaliação médica especializada.
Como se faz o diagnóstico do SIBO?
Atualmente, um dos métodos para a verificação do supercrescimento bacteriano do intestino delgado passa pela realização de teste respiratório. Neste teste consegue-se detetar o nível de concentração de hidrogénio e metano resultantes do processo de fermentação bacteriana. Além disso, este é de execução fácil e não invasivo e permite medir a quantidade de hidrogénio e metano presentes na expiração após a toma de um preparado composto por água e lactulose.
Uma das outras formas para avaliar o supercrescimento bacteriano no intestino delgado é a realização de endoscopia. Por meio deste processo, é retirada uma amostra do fluido intestinal, para que depois possa ser analisada em laboratório.
Além destes testes, o seu médico pode ainda recomendar que efetue análises sanguíneas para avaliar alguns parâmetros, nomeadamente os níveis de vitaminas presentes. Por exemplo, o aumento do folato sérico ou a redução da cobalamina fornecem evidências indiretas de supercrescimento bacteriano. Adicionalmente, o médico pode requisitar outro tipo de exames complementares para identificar, por exemplo, certos aspetos estruturais/anatómicos do intestino delgado.
SIBO: como gerir o supercrescimento bacteriano?
Para que o controlo do supercrescimento bacteriano do intestino delgado seja eficiente, é fundamental cumprir os seguintes pressupostos:
1 - Identificar corretamente a causa do SIBO
O tipo de tratamento pode variar consoante as causas que tenham motivado o desenvolvimento do SIBO e podem incluir métodos como dieta ou medicação específica. Por exemplo, a introdução de uma dieta apropriada pode melhorar os sintomas dos doentes celíacos que tenham SIBO.
2 - Controlar o crescimento excessivo das bactérias
Este é, normalmente, o primeiro passo do tratamento do SIBO e faz-se através de prescrição de antibióticos para reduzir o excesso de bactérias presentes no intestino delgado. Por isso, este tratamento pode ser mais ou menos prolongado e o médico pode optar por diferentes antibióticos, por forma a evitar a resistência bacteriana.
3 - Dar suporte nutricional
Este é um ponto fundamental do processo de tratamento de SIBO, sobretudo para os pacientes que apresentem já deficiências do ponto de visita nutricional ou tenham uma perda de peso acentuada. Este suporte pode ser feito através de suplementação vitamínica (injeções de vitamina B12 ou suplementos orais com vitaminas, cálcio e ferro) e da introdução de uma dieta específica.
Para além disso, realizar uma dieta baixa em FODMAPs (sigla para certos tipos de hidratos de carbono que não são digeridos pelo organismo e que podem causar desconforto intestinal) vai ajudar a reduzir os sintomas numa fase inicial.
SIBO e a alimentação: qual a relação?
A dieta com baixo teor de FODMAPs é uma das mais indicadas para quem padece de SIBO.
Ainda que os dados sobre a sua eficácia estejam associados fundamentalmente ao controlo da síndrome do intestino irritável, é importante salientar que há uma tendência para que pessoas que sofrem com esta síndrome tenham, geralmente, SIBO. Deste modo, eliminar ou reduzir alimentos ricos neste tipo de hidratos de carbono pode auxiliar na melhoria dos sintomas e, portanto, garantir melhor qualidade de vida.
Assim, de forma a reduzir o consumo de FODMAPs, deve-se evitar a ingestão de frutose (açúcar encontrado nas frutas, no mel e em alguns vegetais), lactose (proveniente do leite e seus derivados), frutanos (presentes em produtos com glúten, frutas e alguns vegetais), galactanos (hidratos de carbono presentes em algumas leguminosas) e polióis (usados como adoçante).
Tendo isto em conta, pode considerar consultar um nutricionista para elaboração de um plano nutricional com vista a reduzir ou, mesmo, eliminar da sua dieta os alimentos com maiores quantidades de FODMAPs caso lhe tenha sido detetado SIBO, tais como:
- xarope de milho rico em frutose;
- néctar de agave;
- mel;
- refrigerantes;
- alho;
- cebola;
- espargos;
- abóbora;
- couve-flor;
- alcachofra;
- feijão;
- maçã;
- frutos secos;
- salsicha;
- iogurte de aroma;
- gelado/sorvete;
- cereais açucarados;
- cevada;
- centeio;
- grãos;
- ervilhas.
Em suma, o supercrescimento bacteriano no intestino delgado é uma condição em que há um crescimento excessivo de bactérias nesta zona do sistema digestivo. Na maioria das vezes, ao contrário do intestino grosso, o intestino delgado não possui um grande número de bactérias. O excesso de bactérias no intestino delgado pode condicionar a absorção de nutrientes necessários pelo corpo. Para além disso, a utilização dos nutrientes pelas bactérias pode danificar o revestimento do intestino delgado. Isso pode dificultar ainda mais a absorção de nutrientes pelo corpo e pode mesmo surgir desnutrição. Os sintomas mais comuns incluem distensão abdominal, dor e cólicas, diarreia (mais frequentemente aquosa) e flatulência.
Assim sendo, se tem estes sintomas visite o seu médico que realizará um exame físico, avaliará o seu historial clínico e indicará a realização de alguns testes e exames complementares para esclarecer sobre a existência de SIBO. E a SYNLAB ser obviamente um aliado para o correto diagnóstico e melhoria da sua qualidade de vida!